terça-feira, 20 de março de 2012

A GENTE TAMBÉM SE DIVERTE


Há ocorrências e ocorrências. Tem situações que no início passamos o maior aperto, mas depois o riso toma conta... só que na hora, meu irmão... Suei frio!

Não faz muito tempo, estávamos em patrulhamento numa favela do interior capixaba, já era final da Operação Verão e a guarnição queria fechar o serviço com um flagrante de tráfico ''daqueles''. Ficamos a semana toda estudando, onde fazer o Tróia, por onde abordar e quem abordar. Já sabíamos, pela P2, que os vagabundos tinham recebido uma quantidade grande de droga e que naquela noite iriam repassar para os ''distribuidores'' endolar e depois pulverizar pela cidade.

A estratégia foi elaborada e precisávamos apenas colocar em prática. Pois bem, mas só não contávamos com uma coisa: as vacas. A guarnição já estava na espreita há quase 3 horas! Pensa meu camarada, quase 3 horas agachada, sem poder levantar e tão pouco, mover-se direito. A câimbra já havia tomado conta da minha perna umas duas vezes... Complicado, camarada, mas estávamos ali... Firmes e fortes. Até porque a vontade de pegar aqueles vagabundos em flagrante aliviava qualquer dor.

A barca dividiu-se: dois companheiros estavam mais a frente, num meio descampado, próximo a uma construção abandonada e eu estava sozinha, do lado oposto, cobrindo a retaguarda dos mesmos. Até aí, tudo dentro do cronograma. Eis que de repente, não mais que de repente, surge um pequeno rebanho (aproximadamente umas 12 cabeças de gado). Poderia imaginar qualquer coisa: um bando de motoqueiro, um monte de noiado, vários pinguços arrumando confusão, mas... Gado, naquela região, no meio da favela... Parecia brincadeira... Sem explicação.

Devem estar pensando, "mas as bichinhas devem ter passado batido!"... rs... Antes tivesse passado direto e seguido o rumo delas. Entretanto, NÃO. E não sei por qual motivo que elas resolveram ficar na região em que a guarnição estava fazendo o Tróia. Pensei, @#%¨¨%$#$@... Vai dar m#$&+@! Guerreiro, agora eu acho graça, mas no dia meu irmão... O suor ficou frio. Não podia sair do meu posto, tão pouco poderia me deslocar dentro das proximidades, pois estaria sujeito a abortar a missão. Então, fiquei quietinha... Mas a 'desgramada' de uma vaca veio se aproximando, aproximando... Senti o bafo da infeliz no meu rosto e pensei, essa merda vai encrespar comigo! Não demorou muito, acho que a vaca não gostou muito do meu perfume... A mesma juntamente com as outras colegas foi para o lado oposto, onde estavam meus companheiros. Eles, já visualizando a minha suga, foram mais rápidos na ação. Quando a vaca se aproximou, disparou uns jatos de OC que a bicha saiu dando pinote e levando o restante do gado junto. Não aguentei... A risada era muita.

É fato que essa situação, deixou os vagabundos em alerta e os sujeitos deram QTA no QTC. Chegamos a abordar alguns indivíduos, mas sem algo de grande valia. A noite de toda não foi perdida, mas o flagrante que queríamos ter feito naquele dia, não foi possível. Entretanto, não ficamos estarrecidos, sabemos que mais cedo ou mais tarde o lugar de vagabundo é um só: o xadrez.

Serviu de lição: devemos estar atentos a qualquer adversidade, por mais inesperada e desconexa que ela seja, ela pode de dar uma rasteira. Agora você entende que treinamento difícil é necessário para que o combate seja fácil? Isso faz todo o sentido. Uma situação simples e até engraçada de certa forma, mas que nos remete a pensar amplamente no que se refere a preparo profissional.